Centro Sul – Proteger os filhos é dever dos pais, contudo, há um limite entre a proteção saudável e a superproteção. Alguns pais procuram retirar os obstáculos do caminho dos filhos, fazendo de tudo para a criança. Esta atitude pode ser encarada como natural, mas pode prejudicar o desenvolvimento e o crescimento da criança.
Em entrevista, o professor do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e mestre em Educação, Marcelo Ubiali Ferracioli, fala sobre o comportamento superprotetor dos pais e os impactos que ele tem sobre a vida dos filhos:
Qual a importância da proteção dos pais para o desenvolvimento da criança?
Ferracioli: A proteção dos pais é super importante porque a criança é um ser que ainda está aprendendo a viver no mundo adulto, tanto que a própria infância e adolescência têm características de cada vez mais estar se apropri-ando do universo adulto. Um exemplo é a criança que brinca de fazer comida. Ela não produz comida de verdade, é um faz de conta do universo adulto. Então a proteção dos pais deve ser no sentido de oportunizar a esta criança que ela se aproprie do universo adulto com qualidade, respeito, ética e crítica.
Como é possível identificar quando os limites da proteção saudável foram ultrapassados?
Ferracioli: Quando a criança está fazendo algo que os adultos não desejam, ultrapassando os limites do convívio familiar. Esses comportamentos até tem uma consequência para a criança, mas ela acaba mantendo essa conduta. Ou seja, ao invés da criança ser repreendida ou o foco do que ela está fazendo ser direcionado para algo que seria mais interessante que fizesse naquela situação, ela é elogiada ou de alguma maneira ignorada. Deste modo, a criança mantém aquele comportamento indesejável.
O que leva os pais a adotarem o comportamento superprotetor?
Ferracioli: Não há um único fator. Este comportamento pode ser causado pela inexperiência dos pais em lidar com crianças ou um excesso de zelo em relação ao que a criança pode ou não fazer, o que ela sabe ou não e ao que deve ou não fazer. Por exemplo, a criança já tem habilidade para determinada atividade, mas os pais ainda imaginam que ela não consegue fazer e então fazem por ela. É possível também que haja uma falta de coesão entre o que o pai acredita e o que a mãe acredita, e como cada um diz uma coisa, a criança vai obviamente escolher aquilo que for melhor para ela.
Quais as consequências da superproteção para as crianças? Na vida adulta o que ela pode acarretar?
Ferracioli: É importante sabermos que não só os pais, mas outros adultos significativos ao redor da criança também podem provocar estas situações, por exemplo, avós, tios, tias e professores. No caso em que o adulto sempre faz algo julgando que a criança não sabe fazer, vai acontecer de que quando ela precisar se colocar na situação de fazer, vai querer a ajuda de um adulto, e vai exigir isso, porque ainda não aprendeu a fazer sozinha. Mas não há nenhuma relação necessária, ou seja, pode ser que a criança venha a desenvolver este tipo de comportamento ou não. O que podemos dizer é que se ela foi superprotegida durante toda a sua infância e adolescência, isso significa que no momento em que uma exigência recair sobre ela de uma forma independente pode acontecer de ela não saber como lidar com determinadas situações. Neste contexto, o universo adulto vai exigir que ela tome conta das circunstâncias, vai bater a cabeça por um tempo, mas se tudo correr bem vai superar. No que se refere ao aspecto emocional, talvez tenhamos consequências mais dura-douras como uma intransigência e uma não resistência grande às frustrações, mas isso também não significa que estes aspectos emocionais não possam ser trabalhados e transformados pela própria pessoa.
Como os pais superprotetores podem mudar o seu comportamento em relação aos filhos?
Ferracioli: Os pais precisam primeiro definir regras de convívio. Então, se o pai diz que o filho vai assistir televisão até determinado horário, é até esta hora e acabou. Isso não significa que não se possa reavaliar e discutir junto com a criança, ela enquanto sujeito da decisão. Mas depois que ficar decidido tem que se manter, mesmo que a consequência seja alguma birra ou choro. Outra situação acontece no caso em que a criança fez birra e o pai disse que se ela continuasse com este comportamento iria tirar a chupeta a noite, o pai vai ter que fazer isso mesmo que fique com pena da criança. Isso deve ser feito quando os pais querem estabelecer limites e superar esta superproteção. Mas é sempre desejável que ao invés da criança ser punida por algo que tenha feito ou por ter deixado de fazer, que ela seja premiada, agraciada ou felicitada com algo que goste quando fez e ajudou. Ser pai e mãe é uma tarefa complexa, ninguém nasce sabendo fazer e muitas vezes nós não temos bons modelos dos nossos pais. Aconselho a aos pais que acreditam que algo não vai bem que procurem ajuda para encontrar um meio-termo. Esta ajuda não é através de medicamentos para a criança ou algo semelhante, é encontrar um meio-termo e um limite no relacionamento interpessoal. Existem livros e profissionais que trabalham com isso, então, no caso de terem dúvidas ou sentirem alguma dificuldade que procurem esta orientação.
TEXTO: MARINA LUKAVY
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