Atualmente o Creas de Irati tem 45 casos ativos e mais 15 estão na fila de espera para atendimento
Irati – Nos últimos anos tem se notado um crescimento significativo da população idosa, paralelamente a isso a Secretaria Municipal de Bem Estar Social através do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), tem registrado um número cada vez maior de denúncias de maus tratos sofridos por idosos. Hoje, 45 idosos são atendidos pelo Creas e 15 estão na fila de espera para a visita da equipe técnica.
A secretária municipal de Bem Estar Social, Maria Helena Orreda, conta que devido ao grande número de denúncias de idosos que estavam sofrendo violência, foi organizado um programa específico para atendimento ao idoso que tem os seus direitos violados. “Já existia o programas para atendimento de mulheres que são vítima de violência; o programa de medidas sócio-educativas para adolescentes em conflito com a lei e o Programa Sentinela que atende casos de violência contra crianças. O atendimento ao idoso foi o último a ser implantado justamente por essa preocupação com o número crescente de denúncias”, explica Maria Helena.
Segundo a Política Nacional da Assistência Social a violação de direitos é vista como atendimento de média complexidade, estes são os casos tratados no Creas. O atendimento específico para o idoso tem aproximadamente dois anos de funcionamento dentro do município. “De dois anos para cá, percebemos que está aumentando o número de casos e denúncias de maus tratos. Isso nos preocupa, porque não sabemos se realmente está aumentando o número por conta da violência ou, porque o serviço está sendo mais divulgado e aparecem mais denúncias”, questiona a secretária.
A equipe técnica do Creas que faz o atendimento para idosos é composta pela psicóloga Kelly Kusnik e pela assistente social Gabriele Rezende. Para a psicóloga os maus tratos não são nenhuma novidade e já existem há muito tempo. “É algo que já vem da cultura, daquele pensamento de que o idoso não tem mais função na sociedade. Com a divulgação principalmente do Estatuto do Idoso estão aparecendo esses casos e a questão está vindo à tona”, ressalta Kelly.
Com o crescimento do número de denúncias somando-se a falta de estrutura e de pessoal, a equipe técnica tem uma lista de espera de 15 idosos que aguardam atendimento. O critério utilizado para a realização das visitas da equipe é a urgência dos casos, ou seja, os mais graves são os primeiros da lista. “A Kelly e a Gabrieli que fazem por estas visitas, não conseguem atender as denúncias imediatamente porque são responsáveis pelo atendimento a mulher vítima de violência, ao idoso e ao adolescente em conflito com a lei”, considera Maria Helena.
Essa sobrecarga de atendimentos da psicóloga e da assistente social se explica através dos números: são 160 adolescentes em acompanhamento semanal, onde elas fazem visitas, os adolescentes participam de oficinas sócio-educativas, cursos profissionalizantes, atendimento com a psicóloga e orientações sociais; além disso, são 120 casos ativos de mulheres vítimas de violência. Vale lembrar que no caso das mulheres o atendimento nunca é encerrado.
De acordo com a assistente social grande parte das denúncias é proveniente do interior do município. Raramente, as denúncias partem do próprio idoso, mais comumente pessoas da família ao visitarem o ente notam os maus tratos e levam o caso até o Creas. Do mesmo modo, vizinhos também são os principais denunciantes.
O primeiro passo da equipe do Creas depois da denúncia é realizar a visita na residência do idoso. Nesta entrevista é feito um estudo de caso, ou seja, uma entrevista social onde são coletados todos os dados da família. Gabriele conta que na maioria dos casos a renda do idoso é utilizada por outros familiares. “Geralmente este dinheiro não vai para a compra das necessidades básicas do idoso, como por exemplo, alimentação adequada dependendo da patologia que ele tem e fraldas geriátricas”, acrescenta a assistente social.
Durante o estudo são abordados diversos aspectos, como com qual filho o idoso tem mais afinidade e por que houve a quebra do vínculo. Na sequência os familiares participam de uma reunião onde é decidido o futuro do idoso. “Nós tentamos de todas as formas fazer com que algum familiar possa cuidar do idoso. Só em último caso, ele é removido para uma Instituição de Longa Permanência. Nem o Ministério Público, nem nós enquanto programa social, somos a favor desta medida. Já houve casos em que entramos em contato com pessoas de outros estados, fizemos reuniões entre irmãos que não se viam há mais de dez anos, e tudo isso para fazer com que aquele pai ou mãe não fique sem abrigo”, completa Gabriele.
A psicóloga relata que um trabalho também é feito com a família para que esta não perca o contato com os entes mesmo com a distância. Quando um idoso é transferido para uma residência em outro estado, o Creas daquela localidade faz um trabalho em rede, através do envio de relatórios mensais acerca da situação daquela pessoa para que o acompanhamento continue.
“Há a possibilidade ainda de no caso de nenhum familiar estar disposto a cuidar do idoso, ser nomeado um curador. Temos um caso aqui no município em que depois de termos todas as possibilidades dentro da família esgotadas, nomeamos um curador que é afilhado do idoso”, exemplifica Kelly.
Como denunciar?
Vale ressaltar que o idoso poucas vezes faz a denúncia, para a equipe o medo de ficar sozinho faz com que ele aceite a violência e não denuncie o agressor. Todas as informações repassadas para a equipe técnica do Creas são totalmente sigilosas e podem ser feitas tanto por telefone, como pessoalmente. Porém, é necessário algum dado como o telefone, pois muitas vezes o endereço repassado está errado e a equipe precisa entrar em contato com o denunciante. “Basta que a pessoa nos deixe um número, não precisa nem dizer o seu nome, isso porque se algo der errado nós precisamos entrar em contato novamente para poder fazer esta visita”, frisa a psicóloga.
Para denunciar os maus tratos contra idosos basta se dirigir ao prédio do Centro Administrativo Municipal (CAM) e procurar o Creas. Ou ainda, a denúncia pode ser feita pelo telefone: 3907-3110.
Texto: Marina Lukavy
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