Notícias de toda a região Centro-Sul do Paraná. Sugestões de pautas, fotos ou artigos podem ser enviados para o e-mail: marinalukavy@gmail.com

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Suplementos não substituem a alimentação saudável

As promessas de resultados geralmente não possuem qualquer respaldo científico

O uso de suplementos alimentares cresce a cada dia no mercado e milhares de pessoas, inclusive atletas, buscam esse tipo de produto na esperança de mais saúde, beleza e rendimento. As promessas de resultados feitas pelos fabricantes geralmente, não possuem qualquer respaldo científico ou são embasadas em pesquisas encomendadas.
Em entrevista, a nutricionista Jana Grenteski explica o que são e quais as consequências do uso dos suplementos:

O que são os suplementos alimentares?
Jana: Suplemento alimentar é toda e qualquer substância, em geral produzida quimicamente, que tem a propriedade de completar a ação dos alimentos naturais, dando mais força e energia. O suplemento alimentar é muito procurado por atletas, nadadores, jogadores de futebol, vôlei, basquete e outros. Também é oferecido pelos fabricantes com a promessa de auxiliar nas dietas de redução de peso e/ou nas de aumento da massa muscular. Como os suplementos alimentares não são substân-cias controladas, é possível adquirir na farmácia qualquer um desses produtos que, na verdade, são escolhidos pelas belas embalagens contendo figuras atléticas perfeitas, com algumas indicações de uso e das propriedades. Mas as embalagens não dizem tudo. E nem todo suplemento alimentar é indicado, indiscriminada-mente, para qualquer pessoa. Na dúvida, um nutricionista pode ajudar a escolher o suplemento indicado, sem perder de vista a importância da alimentação normal do dia-a-dia, que deve continuar rica e variada em proteínas, vitaminas e sais minerais.

O que leva uma pessoa a consumir os suplementos?
Jana: Normalmente o consumo de suplementos é fomentado pela idéia de que é necessário compensar uma dieta inade-quada, para atender um suposto aumento nas necessidades diárias imposto pelo treinamento ou pela vontade de ter um efeito sobre a performance. Mas na verdade, as carências nutricionais precisam de testes para serem identificadas. O aumento do consumo energético normal-mente pode ser feito pela dieta e muitas vezes os conteúdos dos suplementos, como a proteína, já são abundantes na alimentação normal. E a noção de melhorar a performance a custa do suplemento quase sempre carece de evidência científica. Como alguns costumam dizer: existem dois tipos de suplementos para aumentar a perfor-mance, os que não funcionam e os que são proibidos.

Em que situações pode-se fazer uso desses produtos?
Jana: Os suplementos podem e devem ser utilizados em treinos ou competições quando: há uma dificuldade em ingerir as calorias suficientes para repor o que o atleta gasta durante o treino ou competição; deseja-se diminuir o bolo fecal para evitar evacuação durante a competição; pretende-se fazer uma supercompensação com carboidratos e não existe abundância de alimentos ricos em carboidratos ou as condições de higiene e preparo não são favoráveis; existe a necessidade de recuperação pós-esforço combinada com situações de falta de apetite; o indivíduo passa por uma situação temporá-ria de restrição alimentar; competições e treinos longos que necessitam do consumo de carboidratos para serem mantidos em níveis de volume e intensidade aceitáveis.

Os suplementos podem causar algum risco à saúde?
Jana: A abundância de produtos disponíveis e a falta de controle fazem com que seja difícil estudar a eficácia e até mesmo a segurança dos suplementos. Muito do que é divulgado não passa de propaganda. Existe uma indústria milionária apoiando a venda dos produtos enquanto que a verba investida em pesquisa séria sobre os produtos é irrisória. Os suplementos alimentares podem trazer grandes benefícios, porém se utilizados sem limites e sem a orientação de um especialista, o suplemento alimentar pode prejudicar sua saúde. Mas o que é mais perigoso é comprar suplementos por conta própria e sair utilizando vários produtos juntos sem nenhuma orientação profissional. Suplementos parecem ser inofensivos, mas dependendo da quantidade ou do componente podem ter consequências desagradáveis. Lembre-se que nenhum suplemento substitui uma alimentação saudável, como o próprio nome diz, ele vem para suplementar à alimentação e terá um melhor resultado associado com hábitos de vida saudáveis.

CONHEÇA OS PRINCIPAIS SUMPLEMENTOS

Cafeína: como a cafeína tem ação lipolítica, supôs-se que a suplementação auxiliaria na lipólise e pouparia glicogênio muscular. Mas, os resultados foram contraditórios e apesar de ser também um forte estimulante, a cafeína é um diurético, aumentando a perda líquida em atividade, um fator indesejável. A quantidade de cafeína para ter um efeito significativo como estimulante é muito grande e seria considerada doping. Além disso, o consumo cotidiano de cafeína interfere na sua sensibilidade – pessoas que nunca conso-mem café são mais sensíveis aos seus efeitos. Essa variação pessoal seria mais um complicador caso se faça uma prescrição individual de uso.

Carnitina: atua como transportadora de lipídios intracelulares e pensou-se que o uso poderia facilitar a utilização de ácidos graxos livres circulantes. Mas os estudos mostraram que esse tipo de suplemen-tação não traz melhorias ao rendimento e que na verdade o que pode acelerar o processo é uma aceleração do funciona-mento enzimático intracelular, o que só ocorre com o treinamento. Mesmo assim, a carnitina é vendida mundialmente sob o pretexto de ser um “queimador de gordura”.
Aminoácidos isolados: o consumo de aminoácidos isolados iniciou com a suplementação de pessoas doentes e os defensores desta prática para atletas alegam que poderiam estimular a secreção de hormônio do crescimento (GH), mas isso não foi provado. Existem indicações de que estes aminoácidos poderiam influenciar a absorção de outros aminoácidos, causar falha renal e lesões teciduais. A suplemen-tação por longos períodos com aminoácidos não tem qualquer benefício comprovado sobre o rendimento, podendo ainda induzir um quadro de resistência periférica à insulina. Não há, portanto evidências apontando o uso de aminoácidos como sendo benéfico para o atleta ou para o seu rendimento.

BCAA (Branched-chain amino acids): aminoácidos de cadeia ramificada, valina, leucina e isoleucina. A maior quantidade de estudos com BCAA deve-se ao quadro da fadiga central. As estratégias para utilização do BCAA em relação à fadiga central procuram estabelecer que sua suple-mentação realmente atrase o início da fadiga. O poder anabólico e anticatabólico dos BCAA também vêm sendo estudados. O consumo de BCAA estimularia a liberação de hormônios anabólicos como o GH, insulina e testos-terona. Vários estudos já mostraram que altas doses de BCAA podem afetar negativamente o rendimento, reduzindo a absorção de água, causando distúrbios gastrintestinais e aumentando a produção de amônia.

Glutamina: é o aminoácido mais comum em nosso plasma e é muito queimado em exercício. Este aminoácido é fonte energética para as células do sistema imunológico e as quedas da glutamina baixam a resistência contra infecções oportunistas, um dos motivos para gripes e resfriados próximos à competições ou treinos fortes. A glutamina não pode ser suplementada eficientemente porque as células intestinais são altas consumidoras de glutamina e não permitem que ela passe para o sangue. Além do efeito sobre o sistema imunológico, a glutamina poderia ter um efeito anabolizante e de estimular a síntese de glicogênio. Formas associadas do aminoácido e outras alternativas estão sendo estudadas e existe alguma indicação de que mesmo com a questão da absorção abdominal prejudicada, o fato de suplemen-tar poderia poupar glutamina endógena.

Creatina: a capacidade máxima do sistema anaeróbico em produzir energia é regulada pela degradação do fosfato de creatina e dura em média dez segundos. A concentração de fosfato de creatina intramuscular é importante para a realização de exercício anaeróbico, intermitente ou de apenas um esforço único que dure no máximo 30 segundos. A creatina que usamos pode ser fornecida diretamente pela alimentação (carnes) ou ser produzida de forma endógena pelo fígado, rins e pâncreas a partir dos aminoácidos glicina, arginina e metionina. A creatina é mais bem absorvida quando ingerida junto com carboidratos em líquidos mornos. Até o momento não se conhece nenhum prejuízo à saúde devido à suplementação com creatina. O uso crônico não foi avaliado. Atletas de atividades mais longas do que cinco minutos parecem não ter qualquer benefício com a creatina, podendo apresentar ligeiro ganho de peso, o que normalmente é indesejável em várias modalidades.

CLA (Conjugated Linoleic Acid): O ácido linoléico conjugado é um derivado da gordura encontrada principalmente em ovos, laticínios, carnes e aves. O CLA tem sido bastante utilizado como suplemento por atletas devido ao seu suposto efeito em aumentar a utilização de gordura pelo organismo e, desta forma, promover o emagrecimento e aumento de massa magra. Estudos com animais têm demons-trado resultados animadores na redução de gordura corporal. Porém, os estudos em humanos não indicaram a mesma eficiência obtida em camundongos. Os melhores resultados em humanos na diminuição da gordura corporal acontece-ram naqueles que tinham deficiência de CLA no organismo, como por exemplo, pessoas vegetarianas. Os obesos também conseguiram melhores resultados no uso do ácido linoléico conjugado na redução da gordura corporal.

TEXTO: MARINA LUKAVY

Nenhum comentário: