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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Prejuízos na agricultura podem prejudicar toda a economia

Produtos como feijão, milho e soja estão apresentando saldos negativos

Irati – O município de Irati possui 67 mil hectares de área onde são plantadas diversas culturas como feijão, milho, cebola, tabaco, soja e trigo. Mas o que tem preocupado os produtores são os constantes prejuízos, principalmente nas safras de feijão, milho e soja. Na tabela, é possível observar os números que vêm sendo obtidos na agricultura dentro do município. Em entrevista ao Jornal Hoje Centro Sul, o presidente do Sindicato Patronal Rural de Irati, Mesaque Kecot Veres, fala sobre o assunto e as possíveis soluções para este impasse na agricultura.

Os números apresentados mostram uma realidade cruel dentro da agricultura. O produtor está ciente dos prejuízos que está obtendo nas safras?
Veres: Muitas vezes o agricultor não observa bem esses valores porque faz as contas somente do que gastou com semente, adubo, óleo diesel, agrotóxico. Ou seja, considera apenas o dinheiro que saiu da propriedade e não conta aspectos como o desgaste da máquina, a mão-de-obra própria, os juros, e outros, mas tudo isso deve ser considerado.

Além da consequência direta que é o prejuízo dos agricultores, o que mais esta situação pode acarretar?
Veres: Esta falta de renda do produtor vai gerar problemas de falta de capacidade de pagamento por parte do próprio agricultor, diminuição no consumo do comércio local, também pode haver um desestímulo do jovem que terá a tendência de sair do meio rural. Toda a economia municipal de algum modo será afetada.

O que o produtor pode fazer para tentar diminuir os prejuízos que vem obtendo?
Veres: Primeiramente, ele deve ter todos os dados do seu custo e trabalhar na ponta do lápis para diminuir o custo de produção e aumentar a produtividade. Também precisa diminuir um pouco a sua dependência externa de fertilizantes e usar racionalmente o agrotóxico, fazendo um trabalho de recuperação de solo. Porque hoje, grande parte do custo de produção se relaciona ao uso de agrotóxico, e se o agricultor tiver um solo bem conservado, com adubação verde, vai diminuir seu custo de produção.

Há alguma solução imediata para este problema? Quem deve se mobilizar?
Veres: Algumas medidas em curto prazo seriam evitar os leilões e haver uma renegociação de dívidas, o sistema financeiro deve estar atento e atender o pedido dos agricultores. Todas as forças representativas da atividade agrícola, produtores, entidades, cooperativas e autoridades deveriam traçar planos e formular de fato uma política agrícola, não só criar programas pontuais que não resolvem a situação.

Como a atuação do Governo poderia contribuir para amenizar esta falta de renda dentro da agricultura? Quais os principais pontos que deveriam ser levados em consideração para a elaboração de uma política agrícola adequada?
Veres: De maneira geral, o agricultor tem feito o seu dever de casa, o que está faltando é o Governo estar mais presente. Hoje a safra mundial tem mais produção do que demanda de uso, existindo assim grandes estoques. O Brasil e os Estados Unidos são os grandes produtores agrícolas, então só terá uma melhoria no preço do produto nesta safra e na próxima, se tiver uma frustração de safra. Então nos EUA, eles torcem para que a frustração seja aqui, e nós torcemos para que isto aconteça lá. O Governo poderia investir mais em logística, porque a plantação aqui é feita “no escuro”, o ideal seria determinar qual a área a ser plantada. Também poderia ser melhorada a questão do seguro, tornando-o mais abrangente, pois em média, num período de 20 anos, são perdidas pelo menos quatro safras por problemas climáticos. Outro ponto é a infraestrutura de transporte da nossa produção, que tem vários pontos falhos. O investimento adequado do PIB no setor agropecuário deveria ser de no mínimo 25%, o Brasil investe 16%. Ou seja, a solução seria mais investimento em infraestrutura, logística, crédito e uma análise do tamanho da safra. Temos como exemplo os EUA que é organizado neste sentido, basta ver o programa de álcool deles. O Brasil começou na frente, mas hoje lá está bem mais avançado, com uma produção maior que a nossa e a logística é muito boa. Eles produzem o álcool onde não tem petróleo e tem todo um sistema de transporte muito eficiente.

Fora estas três culturas (milho, cebola e feijão), o agricultor tem alguma alternativa rentável de plantio?
Veres: É muito difícil afirmar com toda certeza, mas existem potencialidades como a fruticultura. Porém, se não for aberto um canal de comercialização de nada adianta, porque produzir é fácil, mas é necessário ter esse canal que garanta renda para os produtores. Então existem alguns projetos localizados, mas não algo que tenha uma abrangência para atingir todos os produtores.

Na época da colheita alguns agricultores contratam mão-de-obra terceirizada para atender a demanda. Em média, quantos empregos temporários são gerados?
Veres: Na agricultura de maneira geral são gerados cerca 200 empregos temporários. Na época da colheita de cebola e feijão esse número é muito maior porque ela é feita manualmente. Na fumicultura estimamos que são gerados mais de 600 postos de trabalho.

Hoje se nota que a oferta de crédito através de programas de financiamento tem aumentado. Isso ajuda ou prejudica a agricultura? Muitos agricultores não estão sendo iludidos com propostas e contratando financiamentos que não conseguem cobrir?
Veres: Nós temos alguns programas de Governo que são bons, mas pontuais e não resolvem o problema como um todo. O financiamento de crédito deve ser muito bem pensado justamente por essa falta de renda. Hoje nós já estamos preocupados com a capacidade de pagamento do agricultor. Mas é importante ressaltar que nesse ponto também há uma co-responsabilidade de órgãos que incentivam o uso do crédito, do sistema financeiro e do próprio agricultor, que deve analisar a sua situação. Eu acho que o crédito deve ser usado com muita cautela, temos que ter um sistema financeiro que seja sustentável. Muitos agricultores não conseguem resolver o seu endividamento, principalmente o médio produtor que fica numa situação dramática e chega a perder o seu patrimônio trabalhando.

Com a assinatura da Convenção Quadro começaram a ser discutidas culturas alternativas à produção de tabaco. Como está a produção de fumo no município de Irati?Já foram criadas alternativas mais rentáveis?
Veres: Se fala tanto em combate ao plantio de tabaco, mas ainda há uma inversão de valores. A produtividade hoje é de 2.088kg por hectare, com um custo de R$ 12.115,17, vendido a um preço médio de R$ 6,70 o quilo. Por hectare o fumicultor obtém R$ 2.083,40 de lucro. E, se for considerada a mão-de-obra própria, será um saldo positivo de R$ 7.864,20. As três culturas alimentares anteriormente apresentadas ocupam uma área de 55 mil hectares no município e o fumo apenas 3390, mas apresenta um saldo positivo centenas de vezes maior. O fumo ainda é a cultura mais rentável para o agricultor.

TEXTO E FOTO: MARINA LUKAVY.

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