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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

80 anos e uma outra história

Rebouças – Para comemorar os 80 anos de emancipação política de Rebouças o Jornal Hoje Centro traz um outro ponto de vista sobre a história do município. O histórico que será apresentado é baseado em um trabalho elaborado por Élcio Wszolek, intitulado “Rebouças: Ocupação do território – Uma breve análise”.
Os pioneiros no povoamento de Rebouças começaram a se instalar no município a partir da segunda metade do século XIX, motivados pelo processo de expansão de povoação do Paraná. Esses grupos buscavam terras para serem exploradas, e mais tarde foram estimulados pela passagem da ferrovia São Paulo - Rio Grande do Sul na região.
Esse período foi fundamental para a consolidação do povoamento do município, neste contexto são apresentados alguns moradores: Lourenço Mourão, Coronel José Afonso Vieira Lopes, Simão Domingues da Luz, Miguel Soares Franco, Hortêncio de Melo e Padre Vicente Guarnieri.
Através da Lei Estadual 2738 de 31 de março de 1930, Rebouças alcançou a sua autonomia, e foi instalado como município no dia 21 de setembro do mesmo ano, com o nome de Antonio Rebouças. Após a autonomia municipal, mudou a jurisdição para Rebouças, que passou a fazer parte da Comarca de Irati em 1936, até a criação de comarca própria em 1937, posteriormente cassada e reestabelecida em 1948.
O nome Rebouças é uma forma de homenagear o engenheiro ferroviário Dr. Antonio Rebouças, que junto com seu irmão André Rebouças, orientou os trabalhos de construção da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande do Sul. Juntos os irmãos foram desbravadores dos sertões paranaenses e grandes nomes dentro do cenário da engenharia no Brasil.
Mas em sua obra, Wszolek também destaca a ocupação do território reboucense por indígenas. “Não há dúvidas em relação à existência de índios, no passado, nas terras onde está situado o município de Rebouças. Pois podemos comprovar sua presença a partir da descoberta de vários utensílios típicos de aborígines (como pontas de flechas, mão de pilão, pedaços de vasos de cerâmica), em diferentes pontos da região”, cita.
Segundo relatos orais e através de bibliografia é possível afirmar a predominância de indígenas na região até 1940. Na propriedade rural de Simão Domingues da Luz, em Água Quente dos Domingues, os nativos conviviam com a família do proprietário da fazenda, e também prestavam serviços agrícolas a eles.
Wszolek declara que não é possível precisar quando de fato se deu início a povoação no município, mas através de artefatos encontrados no solo da região, pode-se dizer que eles têm mais de 1500 anos. Ou seja, considera-se que Rebouças já havia sido povoada, ou ao menos percorrida no final do século XV, mais especificamente, no início da colonização do Brasil.
Entre os locais onde foram encontrados estes objetos, a Serra do Pique merece destaque, pois lá frequentemente são descobertos vários tipos de utensílios. “É bastante comum, principalmente após a ocorrência de chuvas, se observar na própria superfície do solo grandes quantidades e variedades desses materiais. (...) Na Serra do Pique, por exemplo, a grande diversidade de artefatos visualizados, e ainda, o fato de observarmos objetos que certamente eram destinados às atividades agrícolas e de coleta, como restos de vasos de cerâmica, mão de pilão, machados de pedra, alimentam a hipótese de que foi praticada a agricultura. E consequentemente, nos leva a concluir que o Pique serviu de habitat para os nativos”, menciona.
Uma das heranças deixadas pelos indígenas é a denominação do Rio Água Quente. Esse rio influencia na denominação de várias comunidades, que se formaram próximo às suas margens, como Água Quente dos Rosas, Água Quente dos Meiras, Água Quente do Baú, Água Quente dos Domingues e Água Quente dos Luz, sendo que quase todas elas (somente com a exceção de Água Quente do Baú) trazem o nome do rio, mais o sobrenome de uma das primeiras famílias a ingressar na localidade.
De acordo com a obra “História de Rebouças”, de Félix Szarájia, os nativos que habitaram essa região, e que viviam na fazenda Santa Cruz, costumavam banhar-se todos os dias pela manhã no rio, e passaram a dizer que aquela água era mais quente. “Não sabemos se foi engano dos nativos, ou se através de seu amplo poder de observação da natureza eles realmente conseguiram detectar alguma diferença na água. Contudo, o que está evidente é que, seja através de seus costumes, língua ou lendas, a cultura indígena está aí, presente em nosso dia-a-dia”, completa Wszolek.
Outro ponto esclarecido no trabalho do autor, é que muitos consideram que Rebouças teve início na localidade do Poço Bonito. Wszolek busca demonstrar que a fase inicial de desenvolvimento do povoamento do território não ocorreu em um local isolado, mas foi fruto do surgimento de diversos núcleos de povoamento.
Entretanto, acredita-se que Rebouças surgiu no Poço Bonito pela maneira como foi organizada esta comunidade no final do século XIX. O espaço que seria apenas a sede de uma fazenda, adquiriu características de cidade: tinha energia elétrica (com iluminação pública), calçada, ourivessaria, carpintaria, ferraria, sapataria, escola, etc. E dessa forma, passou a ter maior destaque em relação às demais.
Na obra Wszolek também destaca como peças fundamentais para o desenvolvimento de Rebouças as famílias: Vieira Lopes, Ferreira, Franco, Domingues, Luz, França, Andrade, Cabral e Santos.
O primeiro prefeito do município (ainda denominado Antonio Rebouças) foi Antonio Franco Sobrinho, que teve grande participação no processo de emancipação política do Distrito de Antonio Rebouças. Foi nomeado em 1930, mas adoeceu e faleceu logo após ter assumido seu mandato.
“Os vagões de trens que aqui passaram levaram sim a nossa natureza (nossos pinheiros, nossas exuberantes imbuias, nossos majestosos cedros...), e isso é lamentável. Mas, em contrapartida, os mesmos vagões trouxeram muitos sonhos, seja dos comerciantes ou donos de serrarias, que viam ali a possibilidade de prosperidade econômica, dos próprios fazendeiros que passavam a obter novos mercados para seus produtos, ou então, dos imigrantes de diversas etnias, que buscavam a “terra prometida”. Essa união de sonhos, nem sempre concretizados, culminará na consolidação de mais uma etapa do processo de formação do município de Rebouças”, registra Wszolek.

Texto: Marina Lukavy

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