O atendimento é feito pelo Serviço de Atendimento a Criança e ao Adolescente Vítima de Violência, antigo Programa Sentinela
Irati – Desde 2006, o município de Irati conta com uma equipe especializada que presta atendimento a crianças e adolescentes vítimas de violência, seja ela física, psicológica ou sexual. O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) que é um programa do Governo Federal oferece esse suporte através do Serviço de Atendimento a Criança e ao Adolescente Vítima de Violência, antigo Programa Sentinela.
Atualmente estão em andamento 130 casos de crianças e adolescentes que foram vítimas de algum tipo de violência. A equipe responsável pelos atendimentos é formada pela assistente social, Andréia Arsego; pela psicóloga, Maria Lúcia Lupepsa e pela educadora social, Cláudia Siquinel. Recentemente o advogado, João Fornazari Bini também começou a acompanhar os casos.
As denúncias de violência geralmente são provenientes do Conselho Tutelar, das escolas e até mesmo da própria comunidade. “Quando as denúncias chegam, nós verificamos o caso, se há realmente violência ou não”, conta a psicóloga. Na maioria das vezes a agressão é intrafamiliar, ou seja, cometida pelo pai ou pela mãe, padrastro ou madrasta.
A equipe explica que depois da constatação do caso de violência, o atendimento a ser prestado vai variar de acordo com o grau da agressão. Se necessário a vítima é encaminhada até o Instituto Médico Legal (IML), a Secretaria Municipal de Saúde ou a Santa Casa a fim de realizar exames médicos. Também são realizadas visitas domiciliares, atendimento psicológico individual, em grupo e com a família.
Nos casos de violência física e psicológica são prestadas orientações aos familiares no sentido de mudar este tipo de comportamento. “Primeiramente nós ouvimos a pessoa para entender o que está levando ela a agir assim com o próprio filho. Orientamos para que depois esta pessoa se perceba fazendo isso. Muitas vezes eles não percebem que estão agredindo o filho, se é alguém de fora comete o mesmo ato para eles é agressão, mas se é eles que estão fazendo não consideram”, observa a educadora.
A assistente social conta que muitos pais ou responsáveis ainda vêem a agressão como forma de educar os filhos. Muitos alegam que foram criados desta forma e julgam que assim devem agir com os filhos. “Sabemos que hoje este tipo de educação, se é que podemos dizer isso, não dá mais certo e que violência gera mais violência, é um ciclo que precisa ser quebrado. Os pais precisam de orientação e de conscientização de que há outras maneiras de educar sem estar partindo para a agressão”, completa Andréia.
Maria Lúcia relata que quando a equipe se dirige até os agressores muitos negam a denúncia e afirmam que não batem em seus filhos. “Outros ainda, discordam com o que dizemos e acham que bater é a melhor maneira de educar, dizem que já tentaram conversar mas, não adianta, os filhos não mudam o comportamento”, acrescenta a psicóloga. A educadora afirma que a reincidência é mais comum nos casos de violência física, pois muitos casos encerrados pela equipe acabam retornando.
Nos casos de violência sexual, o Serviço de Atendimento a Criança e ao Adolescente Vítima de Violência não atende o agressor, mesmo que ele não seja punido e que não vá preso. A equipe conversa apenas com a criança e com o responsável por ela, desde que este não seja o agressor. Nestes casos, o primeiro passo é retirar a criança de perto do agressor, mas muitas vezes ele está dentro da própria casa e o desligamento não é tão fácil.
“Muitas vezes nós queremos que ele seja retirado deste lar, mas não conseguimos principalmente porque na maioria dos casos é ele quem sustenta a casa”, ressalta Maria Lúcia. A assistente social esclarece que a falta de provas materiais do abuso é um dos fatores determinantes para que a Justiça não determine o afastamento do agressor. Ou seja, a própria criança pode comprovar através de relatos que foi vítima de abuso, mas se não houver marcas no corpo não há provas.
Rede de Enfrentamento
O município de Irati conta hoje com a Rede de Enfrentamento á Violência, ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes que envolve diversos setores ligados a criança e com o adolescente. A Rede é formada por pessoas que se reúnem mensalmente para a discussão de ações de prevenção.
“A Rede aqui de Irati está sendo referência para vários municípios. Nós estivemos em União da Vitória no último dia 10, explicando como funciona a Rede desde a sua implantação, ou seja, mostrando um exemplo para eles estarem articulando a montagem naquele município. Isso mostra o trabalho que nós temos, uma sociedade organizada que trabalha em prol dessa prevenção”, enfatiza Andréia.
Um projeto feito pela Rede de Enfrentamento a Violência juntamente com a Secretaria de Saúde, proporcionou que o município fosse contemplado em aproximadamente R$52 mil pelo Ministério da Saúde. O projeto trata da implementação das ações da Rede, principalmente na questão de prevenção da violência. “Nós temos que trabalhar para prevenir que a violência aconteça, porque se ela se consuma o trabalho é longo. Temos uma fila de espera grande e casos urgentes”, completa Cláudia.
Através do projeto será possível criar um banco de dados que será alimentado através das fichas de notificação que já foram implantadas. Com essas informações será possível verificar quais os casos mais comuns de violência, os locais em que ocorrem com maior frequência e faixa etária das vítimas. “Com esse banco vai ser possível visualizar melhor os casos e fazer um mapa da violência no município. Ele vai facilitar o nosso entendimento das causas desses casos e desta forma poderemos programar melhor as ações de prevenção”, conclui a educadora.
TEXTO: MARINA LUKAVY
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