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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tragédias levantam discussões sobre possíveis problemas climáticos em Irati

Em 2009 e 2010, o município sofreu com enchentes que assolaram vários bairros

Irati – Com as recentes tragédias que atingiram diferentes locais do mundo, surgem questionamentos sobre as condições de atendimento a possíveis ocorrências de problemas climáticos. O Jornal Hoje Centro Sul procurou a Defesa Civil do município de Irati para entender como o órgão funciona e quais os principais episódios atendidos. Também, professores do departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), relatam as principais características do solo e do relevo do município.


Atuação da Defesa Civil
A atuação da Defesa Civil tem como objetivo reduzir desastres e compreende ações de prevenção, de preparação para emergências e desastres, de resposta aos desastres e de reconstrução. O seu desempenho se dá de forma multissetorial e nos três níveis de Governo: Federal, Estadual e Municipal. Também conta com ampla participação da comunidade.
Em Irati, a comissão da Defesa Civil tem como presidente, o prefeito Sergio Stoklos; presidente-adjunta, a vice-prefeita Marisa Massa Lucas; diretora de operações, Rozenilda Romaniw Barbara e secretária, Cleide Aparecida da Cruz de Andrade.
Rozenilda explica que a Defesa Civil também compreende o Grupo de Atividades Fundamentais (Graf), que são quadros comandados por pessoas responsáveis por formar equipes necessárias ao trabalho da Defesa Civil. São elas:
- Equipe de Avaliação de Danos: José Bodnar. Em casos de ocorrência de danos, este grupo que vai fazer o levantamento dos prejuízos, tanto na área urbana como rural.
- Equipe de Transporte e Logística: Abel Pasternak. Responsável por cadastrar os voluntários e interessados em ajudar a Defesa Civil, como pessoas que possuem barcos e caminhões, e a própria comunidade. Em caso de necessidade estas pessoas são convocadas para prestar socorro às vítimas.
- Equipe de busca e salvamento: Celson Bernardo Andrade Caetano. Tem como atribuição compor a equipe que vai atuar nas emergências fazendo o trabalho de busca e salvamento, auxiliando o Corpo de Bombeiros.
- Equipe de Atendimento Pré e Hospitalar: Deise Stefania Daniliszyn. Fará o encaminhamento na área da Saúde para as vítimas.
- Equipe de Serviços Essenciais: Maria Helena Orreda. Em caso de necessidade, esse grupo vai fazer o levantamento e procurar mantimentos, colchões e o que for necessário para as vítimas.
- Equipe de Abrigos Provisórios: Zenilda Alice Stroparo. Caso haja necessidade de evacuar determinada área, serão procuradas igrejas, escolas e ginásios para alocar estas pessoas.
- Equipe de Suprimentos de Sobrevivência: Ana Maria Bida de Oliveira Borges. A partir do levantamento do que se faz necessário, a equipe vai avaliar a questão financeira.
- Equipe de Relações Públicas: Silmar Ferreira Ditrich. Responsável por contatar autoridades e pessoas úteis em situações de emergência.
- Equipe de Segurança e Ordem Pública: major Renato dos Santos Taborda. Deverá coordenar as equipes da Polícia Militar (PM) para evitar imprevistos, como por exemplo, depredações.
Além destas equipes, o Corpo de Bombeiros é quem oferece todo o aparato necessário e atua juntamente a Defesa Civil. Em função das enchentes que ocorreram em Irati, principalmente em 2009 e 2010, e pelos recentes desastres naturais que vem acontecendo em todo o mundo, os integrantes da Defesa Civil de Irati estiveram reunidos no último dia 18 (terça-feira).
Na reunião foram discutidas ações preventivas a serem desenvolvidas no município, com intuito de minimizar situações de emergência que possam vir a ocorrer. “Há principalmente uma preocupação com as áreas em que historicamente acontecem alagamentos e em morros. Esses moradores precisam de outro lugar para residir, isso para o bem deles e do Município, para que este não venha a perder pessoas”, completa a diretora de operações da Defesa Civil.
O diretor do Departamento Municipal de Habitação, Osmário Bacil, conta que de acordo com o último levantamento realizado, há 66 famílias morando em locais com estas características. Stoklos afirma que já foram feitos projetos e enviados ao Governo Federal para a retirada de famílias destes locais, entretanto, os projetos não foram aprovados. Segundo Bacil, também há dificuldade quanto à mudança de bairro, pois a maioria das famílias se recusa a sair das áreas de risco onde têm suas casas.
O comandante do Corpo de Bombeiros, tenente Élcio José de Meira comenta que está sendo realizado um trabalho conjunto da Corporação e da Defesa Civil de Irati no mapeamento das áreas de risco. “No mínimo uma vez por ano é feito o mapeamento das condições dos rios, onde são realizadas vistorias nas descidas do rio para verificar como se encontra o escoamento da água”, remete o tenente.
O Rio das Antas passa por quase todo o município de Irati e é sobre ele que é empregada maior atenção. “O Rio das Antas tem o leito muito curto. É possível que mesmo havendo projetos de limpeza e de dragagem, ocorram casos de saturamento das águas, fazendo com que saia do leito e inunde as residências próximas. Em alguns pontos dele, o nível das casas fica abaixo do nível do rio”, enfatiza Meira.

Registros da Defesa Civil
Os principais registros da Defesa Civil de Irati dizem respeito a ocorrência de alagamentos, ventanias e granizo. A diretora de operação explica que casos de ventania e granizo acontecem em qualquer área do município, mas de forma mais isolada, de acordo com a formação das nuvens. “Os vendavais são mais frequentes, geralmente, a cada dois meses. O nosso último registro foi em novembro de 2010”, observa.
Em 2009 e 2010, o município sofreu com enchentes que assolaram vários bairros (ver mapa). O pior episódio ocorreu em 08 de setembro de 2009, quando a Prefeitura Municipal decretou estado de emergência. “Em fevereiro do último ano, a chuva atingiu em cheio a área rural. A água levou mais de 20 pontes e bueiros, desmoronou estradas e também houve perda nas criações. Alguns locais ficaram alagados, por até três dias”, acrescenta Rozenilda.
A diferença entre a área urbana e rural está basicamente voltada à questão econômica. O interior do município apresenta menor risco aos moradores por não haver uma grande concentração de pessoas. “Na área rural o problema é econômico porque os prejuízos são na lavoura. Por exemplo, o granizo fura as folhas, o vento quebra as plantas e chuva estraga estradas, pontes e bueiros. Diferente da situação urbana, onde há sempre uma concentração maior de pessoas em determinada área”, ressalta a diretora de operações.
Para Rozenilda, os desastres climáticos são resultado do modelo econômico atual. A área rural dos municípios está sendo esvaziada e estão se formando grandes concentrações de pessoas nas cidades onde há mais indústrias.
“O próprio modelo econômico está tirando as pessoas de seus lugares de origem e concentrando em cidades grandes e medianas, e não está dando conta desses problemas que estão surgindo. Esta concentração acaba desestruturando o solo, criando mais lixo, aumentando as áreas asfaltadas, porque as pessoas querem benefícios, e cada vez mais o solo é selado. Esse é um problema sério, no qual os governantes que estão acima de nós, deveriam iniciar ações para induzir os sistemas de desenvolvimento privilegiando as cidades menores”, conclui a diretora de operações.

Questão geográfica
O professor de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Valdemir Antoneli, diz que não só o relevo de Irati, mas também os municípios que margem a Escarpa da Esperança, são formados por rochas sedimentares, entremeadas por diques e sills da Formação Serra Geral. Esses diques dão origem a um relevo mais declivoso. “Em específico, a cidade de Irati está situada entre alguns diques, os quais implicam em uma formação de morros e vales. As formas predominantes são topos alongados e isolados, vertentes côncavas com vales em forma de “U”. As vertentes côncavas se caracterizam pela concentração do fluxo de água”, descreve Antoneli.
Segundo o chefe do Departamento de Geografia da Unicentro, Roberto França, qualquer morro está sujeito a deslizamento nos caso de grandes volumes concentrados de chuva. “As encostas vegetadas são menos propensas a deslizamento, pois a vegetação exerce influência significativa na redistribuição da água da chuva. Ou seja, boa parte dela é armazenada nas copas das árvores e o percentual de água que chega até o solo vai sendo infiltrado no solo de maneira lenta”, esclarece França.
Antoneli comenta que no caso de uma encosta habitada ou simplesmente sem vegetação, haverá mais água para o escoamento. “No caso de Irati, nota-se que algumas áreas de risco estão sendo ocupadas e estão sujeitas a deslizamento. Essas áreas surgem sem um planejamento adequado, com, por exemplo, impermeabilização do solo, asfalto, canaletas e galerias pluviais para que a água da chuva seja escoada sem contato direto com o solo propriamente dito”, declara Antoneli.
Destaca-se que para haver um deslizamento as chuvas devem ser muito intensas e prolongadas. Outro fator que deve ser observado pela população que habita áreas de risco de deslizamento é o volume e a concentração de sedimentos que estão sendo carregados das partes mais altas da encosta.

Inundações
De acordo com França, quando ocorre uma precipitação maior tanto em volume, como em intensidade, o solo não consegue absorver toda á água, implicando em escoamento superficial que vai se conectar com um rio, aumentando assim, a vazão. “O grande problema das inundações é que boa parte dos rios são canalizados e a água da chuva chega até eles através das galerias pluviais. Estas galerias com o escoamento superficial nas canaletas das áreas pavimentadas, vão carregar lixo que entope as galerias, ocasionando uma maior concentração de água, inundando até mesmo aqueles locais onde o rio está canalizado”, observa França
Algumas soluções poderiam ser tomadas por parte da população e pelo poder público. “A população deve ter maior consciência, principalmente, para não jogar lixo nas ruas, visto que os detritos contribuem para o entupimento das galerias pluviais. Já o poder público, deveria fiscalizar e impedir a urbanização nos fundos de vale, caso o impedimento fosse inviável, deveria então canalizar os trechos ao longo dos rios que apresentam problemas”, conclui Antoneli.

Texto: Adriana Souza e Marina Lukavy

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