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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Circo Pop Star não poderá utilizar animais nas apresentações

Centro Sul - O juiz substituto da Comarca de Irati, Leonardo Souza, na última quinta-feira (03), deferiu o pedido de uma ação civil pública que proíbe a utilização ou exibição de animais (silvestres, naturais, exóticas ou domésticas) nas apresentações do Circo Rodeio Pop Star. A decisão deverá ser cumprida pelo circo não somente em Irati, mas em todo território nacional. Em caso de descumprimento, será aplicada uma multa diária no valor de R$10 mil, ou o circo poderá ter as atividades paralisadas.


A acusação
Segundo a promotora substituta, Rita de Cássia Pertussatti Ribeiro, a ação foi proposta através de uma representação a respeito de abusos e maus-tratos contra animais utilizados nas apresentações. "A denúncia partiu da população que nos trouxe as informações de que havia abuso dos animais. Também, desde que o circo chegou na cidade nós já tínhamos observado o fato de que havia utilização desses bichos", afirma Rita.
O Ministério Público (MP) ouviu uma testemunha que contou que durante o espetáculo do circo os animais sofriam batidas na cabeça, eram puxados de qualquer maneira e tinham aparência apática. "Além disso, também é preocupante a falta de segurança adequada no interior do circo por ocasião da apresentação dos animais, gerando um perigo eminente aos espectadores, principalmente crianças e adolescentes. A arena é bastante frágil, porque se o animal estiver nervoso pode acabar saindo e atingindo o público", acrescenta a promotora.
Além do testemunho, a ação se baseou no próprio site do Circo Pop Star (www.circopopstar.com.br/). De acordo com Rita, a forma de tratamento dos animais está bem clara na página e é ilustrada através de fotos e vídeos. Eram utilizados nos espetáculos porcos, cavalos e touros.
No documento repassado pelo MP, consta que esses animais eram utilizados da seguinte forma:
- porcos: segundo relatos os animais eram engraxados e em seguida, eram soltos para que os participantes tentassem pegá-lo. Um prêmio era dado para aquele que conseguisse alcançar primeiro a presa;
- cavalos: utilizados numa espécie de rodeio. Depois de montados eram instigados a saltar e pular até o cansaço físico do animal ou até o cavalheiro cair. Nas fotos obtidas no site do circo se pode constatar que os animais estão apáticos, com aparência de cansaço, devido aos abusos cometidos pelos apresentadores do dito "show" de rodeio;
- touros, bois e vacas: os animais são instigados pelos apresentadores do espetáculos a atacá-los e também aos espectadores que aceitam ingressar na arena. Os participantes podem segurar a cabeça dos animais a fim de imobilizá-los e fazer a "doma artística", isso tudo regada a bebida alcoólica (cerveja). A única separação que existe entre a plateia e o "show da tourada" são pequenas hastes metálicas, postas na arena, cujo chão é de areia batida, apenas no momento da apresentação, não trazendo segurança para o público.
Outra preocupação do MP é em relação a um número chamado "Cervejada". Nesta parte do espetáculo, são convidados quatro voluntários da plateia para entrar na arena de rodeio. Cada um recebe uma cerveja para tomar e deve ficar no centro do palco segurando um tonel, enquanto tenta escapar do animal que pode ser um touro, boi ou vaca. O último a soltar o tonel é o vencedor da brincadeira. "Qualquer pessoa que estiver no circo pode participar. Nosso receio é que adolescentes tenham participado", completa Rita.
Os animais utilizados nas apresentações não são de propriedade do circo e sim, de fazendeiros da região. Sendo assim, além do circo, os donos dos bichos também poderão sofrer sanções caso seja descumprida a determinação.
A decisão, de caráter liminar, proposta pela Promotoria de Justiça de Irati vale para todo país. O juiz substituto determinou ainda multa diária de R$10 mil ou mesmo a paralisação das atividades do circo em caso de descumprimento. "Caso o cidadão vá até uma apresentação do circo e presencie a utilização ou exibição dos animais, deve fazer a denúncia através da polícia ou procurar o Ministério Público", conclui a promotora.

A defesa
O sócio-proprietário do Circo Pop Star, Claudio Rodrigues, diz que recebeu a notícia com surpresa. "Antes de nos instalarmos em Irati, procuramos a Prefeitura Municipal para conhecer as leis municipais. Se existisse alguma lei específica proibindo a utilização de animais no picadeiro nós não teríamos vindo para cá", aponta Rodrigues.
Segundo ele, o circo não mantém os animais em cativeiro, visto estes são cedidos por fazendeiros da região que escolhem os mais bonitos, mais bravos e difíceis de domar. O caminhão boiadeiro vai até a fazenda às 19h e o espetáculo começa geralmente às 20h30. Quando termina a apresentação o animal é colocado no caminhão e levado para a fazenda na mesma noite.
"O Circo Pop Star está dentro da lei porque não tem animais em cativeiro, e além disso, não possui animais. Tanto que nos dias em que fomos proibidos pela Promotoria de utilizá-los, tivemos o espetáculo normal com duas horas e meia de duração sem os animais. A base do Circo Pop Star é a doma artística e nós nos apresentamos nas principais cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, e nunca tivemos problemas, porque os animais não são nossos. Se fosse assim, não nos apresentaríamos em Blumenau que é uma cidade que proíbe circos que tenham animais", relata o gerente do circo, Jonas Santos.
Sobre a acusação de que os espectadores estão expostos a riscos durante estas apresentações, Rodrigues sustenta que a arena montada é projetada. Quando o animal bate nas grades, estas cedem de 10cm a 20cm para amaciar a queda do bicho.
O circo está entrando com um recurso contra a decisão. O sócio-proprietário afirma que possui testemunhos de fazendeiros e veterinários, de que nenhum dos animais sofreu nenhum tipo de mau-trato. "Se nós machucássemos os animais, os fazendeiros seriam os primeiros a nos denunciar e nos colocar na cadeia. Queremos mostrar um pouco da tradição do Rio Grande do Sul. Nossos espetáculos são tradicionalistas, de domas artísticas. O domador domina o animal a moda do campo, sem laço, sem corda e sem espora", defende.
Em relação a "Cervejada", Rodrigues assegura que somente participam pessoas com mais de 18 anos. Com a decisão, a média de público nos espetáculos do circo diminuiu em torno de 70%. "O domador é um profissional, e se não tiver um animal como vai exercer a sua profissão?", questiona o sócio-proprietário.
De acordo com o gerente do circo, depois da decisão do MP, o Poder Público Municipal está preocupado com a realização do Rodeio em Irati. "Se o que apresentamos são números comuns nos rodeios e não podemos mais, como ficará o Rodeio de Irati?", finaliza Santos.

TEXTO: MARINA LUKAVY

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