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quarta-feira, 9 de março de 2011

A minuciosidade da folia virtual de Leonardo Bora na Casa da Cultura

A exposição “O Real Carnaval Virtual” é a oportunidade de Bora de mostrar o seu trabalho na cidade onde o “enredo do seu samba” começou

Irati – “Risco todos os desenhos a grafite; contorno-os com caneta; dou início à pintura com lápis de cor, canetas e tinta e faço o acabamento”, é assim que o artista plástico iratiense, Leonardo Bora, resume o seu trabalho. Num primeiro momento parece simples, mas basta um olhar sobre as obras de Bora para perceber toda complexidade dos seus rabiscos. São tantas formas e cores que fica difícil prestar atenção em todos os detalhes.

O primeiro contato de Bora com a atmosfera carnavalesca se deu ainda nos anos 80. Nascido no seio de uma família que sempre participou dos carnavais em Irati, o artista plástico afirma que o seu gosto não poderia ser diferente. Os pais não deveriam imaginar que enquanto assistiam desfiles das escolas de samba pela televisão, quando Bora ainda era muito pequeno, estavam diantes de um grande criador de fantasias e alegorias carnavalescas. E mais, que anos mais tarde, aquelas escolas usariam as criações do seu filho nos desfiles.
“Meus pais eram e, de certa forma, ainda são, bons foliões e a fruta não cai longe do pé, como diz o ditado. Quando havia desfiles de blocos e escolas de samba na Rua Dr. Munhoz da Rocha, algumas alegorias eram feitas no barracão do Parque Aquático e passavam pela avenida da minha casa. Subia no muro para ver os carros e ficava extasiado. Deveria ter três ou quatro anos, mas é uma bela recordação”, lembra Bora.
As artes plásticas são parte fundamental da vida do artista desde os dois anos, enquanto os outros meninos dividiam seu tempo entre bolas e carrinhos, Bora mergulhava nas caixas de lápis de cor, bisnagas de tinta e blocos de papel sulfite. A descoberta do talento em desenhar carros alegóricos e fantasias ocorreu em 1993, quando ao ver alegorias que haviam passado pela Sapucaí, resolveu desenhá-las.
“Neste ano, me chamou a atenção em especial, uma alegoria da Mocidade Independente, que na época foi considerada uma revolução tecnológica: um garoto a jogar videogame, com telas de televisão no lugar das lentes dos óculos. Comecei com a cópia e logo passei a criar as minhas próprias alegorias. O gosto pela arte da indumentária veio depois, por volta de 1997”, observa.
Leitor voraz e em contínua busca por novas informações, Bora revela que sua inspiração emana de diferentes fontes artísticas como a pintura, cartum, cinema e literatura. No campo das artes plásticas, tem como referências Hyeronimus Bosch, Pablo Picasso, Henri Matisse, Cândido Portinari e artistas surrealistas de um modo geral.
Já o trabalho de grandes artistas plásticos e carnavalescos, como João Trinta, Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues, Viriato Ferreira, Renato Lage e Rosa Magalhães é fonte de criação permanente. “Basta colocar um DVD de qualquer desfile deles para as ideias começarem a dançar no meu cérebro. A inspiração, porém, é apenas a faísca, o estopim. O restante do trabalho é ‘onde o bicho pega’”, completa.

Carnaval virtual
Acompanhando as tendências mundiais de “virtualização”, o Carnaval também saiu das ruas e invadiu a tela dos computadores. Jovens amantes de escolas de samba idealizaram um Carnaval virtual descontraído, em oposição à seriedade que vem tomando conta, principalmente, do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Realizada no mês de julho, a “brincadeira” também serve como um celeiro de novos talentos.
O artista plástico explica que as escolas de samba virtuais são muito parecidas com as reais possuem: presidente, cidade-sede, bandeira, símbolo, rainha, enfim, todos os elementos que compõe de fato uma escola de samba. “A única diferença é que o trabalho dos desenhistas não será materializado. Ou seja, são avaliados apenas os desenhos, o enredo e o samba-enredo, que podem ser conferidos em uma página da internet no horário de desfile marcado”, acrescenta.
A comissão julgadora é formada por profissionais ligados ao mundo do samba, como Felipe Ferreira, autor de vários livros sobre o carnaval carioca. Hoje, existem duas ligas de escolas de samba virtuais, uma sediada em São Paulo, Liga Independente das Escolas de Sambas Virtuais (LIESV), e outra no Rio de Janeiro, Virtuafolia.
Bora apresenta trabalhos na liga Virtuafolia desde 2008, sua participação consiste na elaboração de enredos e no desenvolvimento visual destes. “Faço o mesmo trabalho que faz um carnavalesco do carnaval real. A diferença é que o trabalho dele é materializado: os desenhos serão transformados em fantasias de tecido e plumas, alegorias de ferro, madeira, isopor e espuma, etc. No carnaval virtual não há essa etapa, tudo fica apenas na fase do projeto”, salienta.
A composição dos trabalhos expostos no Carnaval virtual atualmente segue as tendências de dois grupos distintos. Bora se insere entre os artistas que desenham à mão todas as alegorias e fantasias, ilustrações que serão pintadas com lápis de cor, canetas e tintas. Já o outro grupo que cresce a cada ano, os artistas concebem os desenhos no computador, por meio de programas específicos.
“Sou ‘das antigas’, gosto de sujar as mãos de grafite e de amassar o papel com a borracha. Gosto do cheiro da tinta acrílica. Não saberia fazer de outro jeito, porque não domino as técnicas da computação. Depois, os desenhos são digitalizados. Vão para o computador apenas na fase de finalização, quando recebem um tratamento especial por meio de programas como photoscape (regulo a cor, coloco efeitos visuais, como movimentos e luzes, etc). Provavelmente, chegará o tempo em que predominarão os desenhos ‘virtuais’ por natureza”, considera.

Carnavais no Rio
Em função da criação dos trabalhos para o Carnaval virtual, no final de 2007, o artista plástico começou a fazer desenhos também, para escolas de samba reais. O primeiro contato com o mundo do samba carioca foi por meio da Unidos do Viradouro, escola de Niterói, que foi campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro em 1997.
Em 2007 a escola conquistou o 5º lugar no Grupo Especial e teve como carnavalesco o badalado, Paulo Barros, atual campeão pela Unidos da Tijuca. “Não fazia parte da equipe de desenhistas dele, trabalhava como freelancer, desenhando logos e ilustrações diversas, voltadas para a divulgação do enredo e de atividades da escola. Era mais um trabalho de designer ou publicitário que de carnavalesco”, afirma.
No ano seguinte, Bora assinou a logo oficial do enredo da Império da Tijuca, sobre a arte de Mestre Vitalino, e a logo oficial da Boi da Ilha do Governador, sobre o centenário do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Também fez desenhos e textos de apresentação de enredo para a Mocidade Independente de Padre Miguel, que homenageou Machado de Assis e Guimarães Rosa.
A amizade com o diretor cultural da escola Mocidade, o jornalista Fábio Torres de Bastos, conhecido como Fabato, que é comentarista do desfile das campeãs, transmitido anualmente pela TV Bandeirantes, propiciou a produção de novos trabalhos pelo artista em 2010 para a escola.
Neste ano, Bora vai desfilar no Grupo Especial do Rio de Janeiro pela Mangueira que vai homenagear Nelson Cavaquinho, e no Salgueiro, que fala do Rio no cinema. Segundo ele, um enredo que lhe é muito particular, porque se assume como um cinéfilo de carteirinha. “Em 2011 sou apenas brincante, até recebi boas propostas de trabalho, mas não pude aceitá-las em razão da vida oficial de professor e estudante universitário”, ressalta.
Porém, esse ano não será novidade para o artista plástico que já desfilou por oito vezes em diferentes escolas. Para ele, a emoção varia de um desfile para outro, e que “o Carnaval acontece na hora, na pista”. Já saiu em escolas que saíram da Avenida com gritos de “Campeã” e outras, que ao sair da curva da concentração, morreram na Avenida. “A experiência é sempre bacana, embora eu não seja um folião típico. Não sei sambar, não gosto de chamar a atenção. Mas discreto, do meu jeito, me divirto”, destaca.

Arte de Bora em Irati
Mesmo com seu trabalho reconhecido num dos maiores carnavais do mundo, Bora nunca deixou de lado a sua terra natal. Tanto que de 1999 a 2005, confeccionou painéis e desenhos variados para a decoração do Carnaval no Clube Polonês.
A exposição “O Real Carnaval Virtual”, apresenta desenhos elaborados pelo artista plástico no período de 2007 a 2010, e um no ano de 2001. “Encaro a exposição como a possibilidade de divulgar uma das facetas do meu trabalho artístico que, felizmente, está sendo bem recebida no mundo do carnaval carioca, em minha cidade-natal, onde morei até os 16 anos e onde o enredo do meu samba começou”, conclui Bora.


Visite a Casa da Cultura
Além da exposição “O Real Carnaval Virtual”, no andar inferior da Casa da Cultura, os visitantes podem conferir diversas fotos ampliadas que mostram aspectos do Carnaval da década de 80, na rua e nos clubes de Irati. A mostra conta com imagens cedidas por diversas famílias iratienses e fotografias que fazem parte do acervo do Museu Municipal de Irati.

Ambas as exposições permanecem abertas a visitação até o dia 08 de março, no horário das 9h às 11h30 e das 13h às 17h.

Texto e fotos: Marina Lukavy

Um comentário:

Gabriel disse...

Parabéns pela matéria! Parabéns pelo trabalho Leo, 10, nota 10! auiaiuhaah Abraços!