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quarta-feira, 9 de março de 2011

As mulheres estão realmente livres para exercer sua sexualidade?

"Tenho pacientes que são excelentes profissionais liberais, lindas e que dão um braço pra casar, não importa como ou com quem", Mariza Almeida

Centro Sul - É muito comum ouvir falar que uma das conquistas da mulher foi a liberdade sexual. Sem dúvida, houve grandes avanços na manifestação do comportamento sexual entre o público feminino. Mas será possível afirmar que houve uma mudança no referencial e que as mulheres estão livres para exercer sua sexualidade?


Sexualidade feminina na história
A sexóloga e psicóloga, Mariza Almeida, conta que o homem começou a controlar a sexualidade feminina no período neolítico (por volta de 10.000 a 8.000 A.C), a partir da percepção da sua função biológica reprodutora. Neste contexto surgiu o casamento e a mulher passou a ser considerada como propriedade do homem. Nesta mesma época, ocorria também o avanço tecnológico, o homem fundia metais e posteriormente eram fabricados armas e outros instrumentos que auxiliavam no arado e cultura da terra.
"De acordo com Rose Muraro, as mulheres foram possivelmente as primeiras plantadoras e ceramistas. Antropólogos afirmam que elas também foram os primeiros humanos a perceber a natureza em ação, através do ciclo do seu próprio corpo", relata a sexóloga.
Com a invenção do arado, os homens passaram a sistematizar as atividades agrícolas e as sociedades tornaram-se patriarcais. Surgem novos valores e a transmissão destes ficaram a cargo dos homens. A sexualidade não era mais liberada como fora, a feminina era rigidamente controlada pelo sexo masculino. Havia normas e regras severas e qualquer transgressão podia significar a morte. A mulher era obrigada a sair virgem das mãos do pai para as mãos do marido. Adultério e filho que não fosse do marido eram transgressões inaceitáveis.
A mulher passou a ficar sem vez e voz para qualquer assunto, tanto no âmbito público, como privado. "Ela passou a ser subserviente e submissa em todos os aspectos ao homem até hoje, claro que com menos intensidade em algumas culturas", considera Mariza.
No século XIX, na era Vitoriana, houve muita repressão e o combate à permissividade foi muito intenso e rígido. Porém paradoxalmente a repressão aos desejos sexuais, abria-se espaço para o início da sexologia, bem como para as investigações de Freud. Nesta época também foi iniciado um controle médico às prostitutas. "No século XX, embora o sexo ainda fosse um assunto tratado com pudor e que inibia, Freud surge com investigações até então ignoradas, creditando à sexualidade papel fundamental no comportamento e nas relações interpessoais", observa.
Segundo a sexóloga, as grandes transformações e mudanças econômicas, religiosas, sociais e também na ciência, aliadas às contribuições da Psicologia e Medicina, principalmente, na avaliação e no tratamento dos problemas do comportamento, refletiram-se nas atitudes de homens e mulheres. "O início do século XXI e o amadurecimento físico, emocional e sexual, nos trazem novos padrões de conhecimento sobre o assunto e dão um novo lugar de destaque às mulheres que não se calam e buscam uma vida sexual mais satisfatória", ressalta.

A "Revolução Sexual" da mulher
O surgimento da pílula anticoncepcional na década de 60 era a chave que as mulheres precisavam para se libertarem da prisão que o próprio corpo as mantinha. A pílula causou uma revolução nos costumes sociais e sexuais da época. Aliado a isso, o fator profissional também foi fundamental para a "Revolução Sexual" da mulher.
Mariza conta que com a entrada da mulher no mercado de trabalho, durante a 2ª Guerra Mundial, e posteriormente para ajudar nos proventos do marido ou mesmo em carreira solo, ela já não aceita com a mesma facilidade o papel de submissa. "Ainda que mesmo hoje exista desigualdade salarial, comparando-se com outras épocas, o desnível de inferioridade foi reduzido. Porém, estas profissionais têm mais medo de se envolver numa relação, do que outras que 'não tem nada a perder' financeiramente falando", explica.
De acordo com a experiência obtida em seu consultório a sexóloga destaca que ainda hoje, um dos limitadores encontrados pela mulher para conseguir maior liberdade em relação a sua sexualidade, é uma necessidade de afeto de um relacionamento "seguro". Uma necessidade ainda de proteção, de buscar no outro a responsabilidade de sua felicidade.
Para Mariza, a própria mulher é seu maior inimigo, pois muitas não conseguem se imaginar felizes sem um homem para protegê-las. "Tenho pacientes que são excelentes profissionais liberais, lindas e que dão um braço pra casar, não importa como ou com quem. Isso no meu ponto de vista é um retrocesso na escala de conquista da liberdade. Sem contar o fato de que filhos pequenos muitas vezes impedem a expansão profissional da mulher no mercado de trabalho, ou seja, a limita", acrescenta.
Diante disso, a sexóloga afirma que as mulheres que conseguiram se desvencilhar do mito de que só podem ser felizes com o kit: marido que as sustente, filhos e dona do lar, são as que estão preparadas para a liberdade sexual conquistada. "Algumas surpreendentemente ainda estão meio perdidas e não tem noção do tamanho desta conquista", completa.
A liberdade sexual da mulher já é bem vista pela sociedade, e o maior beneficiado com isso é o homem, pois ela desvincula sexo de casamento. "Atualmente, a amarra mais comum que não permite a mulher exercer sua sexualidade livremente é ela própria, e o número um dos inimigos da humanidade: o medo. Deixo uma dica para aquelas mulheres que acreditam que o homem é a cabeça do casal lembrem-se, a mulher é o pescoço", conclui a sexóloga.

TEXTO: MARINA LUKAVY

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